MINHA HISTÓRIA DE ADOÇÃO

Tudo começou quando eu tinha 11 anos, foi a primeira vez que fui para a casa de acolhimento, por diversos motivos não podia ficar com minha mãe biológica. No início senti muito medo, era tudo muito diferente – as crianças se assustam quando são retiradas de suas casas para morar em um abrigo e precisam ser compreendidas neste momento. Aos poucos fui fazendo amizade com todos e a primeira pessoa em quem confiei e contei minha história foi a tia Preta, coordenadora do abrigo. No começo eu sentia muita falta dos meus irmãos, principalmente o pequeno, aliás ainda sinto muita falta dele. Eu tinha medo que minha mãe e o pai dele batessem nele e eu não estaria lá para defendê-lo.

Depois de um tempo eu voltei para a minha mãe e não deu certo. Muitas coisas tristes aconteceram, sofri grandes decepções, achei que minha vida nunca seria melhor do que aquilo e então eu fugi, achei que era melhor morar na rua do que morar na minha casa ou voltar para o abrigo, conheci pessoas que me disseram que eu jamais seria amada de verdade, e eu acreditei. Acabei voltando novamente para o abrigo e hoje sei que esse foi o melhor caminho. Eu não tinha muita esperança, via crianças entrarem e saírem de lá e eu ia ficando, já me preparava para morar lá até os meus 18 anos e para isso eu precisava estudar e me comportar para que ao sair tivesse uma profissão e pudesse me sustentar sozinha. Não é muito legal se sentir sozinha num abrigo, por mais que as tias e tios se esforcem para nos dar tudo o que precisamos, falta o principal, que é o colo de um pai e uma mãe… mas isso eu nunca tinha tido então eu nem sabia que sentia falta de carinho e amor, eu achava apenas que viveria sozinha.

Poucas pessoas me falavam para ter esperança, e quem mais me dava apoio era a tia  Rose, voluntária que  nos visitava sempre e dizia pra eu ter fé que Deus ia me dar uma família. (é muito importante para as crianças acolhidas ter amigos, tios e tias que se dispõe a ser voluntários e fazer visitas, levar para passear, dar carinho, apadrinhar, essas pessoas trazem o amor e o aconchego que muitas vezes as crianças nunca receberam de ninguém e fazem toda a diferença nas nossas vidas.)

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Lívia no dia que recebeu a notícia de que seria adotada

Um dia tudo começou a mudar e eu nem sabia. A Tia Preta me chamou e disse que eu teria uma madrinha e um padrinho, e eu comecei a passear com eles, ficar na casa deles, frequentar a evangelização com eles, brincar com a filhinha deles… fui entrando na família sem perceber, aos poucos eles perceberam que me amavam como filha, não mais como afilhada, eu sofria quando eles me deixavam no abrigo e eles também sentiam a minha falta em casa. Um dia ouvi minha madrinha conversando com alguém no telefone, ela falava sobre adoção tardia e eu pensei que ela estava procurando uma família pra mim, só depois eu soube que aquela era uma grande amiga que mora longe e que adotou uma menina de 11 anos que se chama Esmeralda, e a mãe e o pai da Esmeralda tinham ligado para dar força para os meus pais, que na época ainda eram meus padrinhos, souberam que eles tinham a intenção de me adotar e resolveram ajudar contando sua história de amor com sua filha e encheram  meus pais de força e coragem. Então um dia meus padrinhos me levaram um da para a casa deles e lá tinha um vaso com flores, foi a primeira vez que ganhei flores, com uma carta que dizia coisas lindas, explicando que nem sempre os filhos nascem da barriga das suas mães, as vezes precisam passar por caminhos difíceis até encontrarem suas verdadeiras famílias e que eu não estava mais sozinha… no final eles perguntavam se eu aceitava ser filha deles e irmã da minha irmãzinha, e eu pulei e gritei muito de alegria, disse que sim… mas no fundo não acreditei muito que isso estava acontecendo.

Um dia o conselheiro tutelar foi me buscar e me levou ao fórum, senti muito medo, achei que iam me mandar para outro abrigo em outra cidade e eu não queria entrar. Quando cheguei perto da sala do juiz eu quis fugir, fui andando para traz  e então o Dr. Fernando que é um juiz mais que especial veio me buscar, foi me acalmando, conversando comigo mas eu estava tão nervosa que nem vi meus futuros pais naquela sala. Então o juiz fez uma pergunta pra mim:

-Você quer ser filha deles?

-Simmm. –Respondi.

E foi quando ouvi o juiz dizer algo que mudou totalmente a minha vida:

-Então Lívia, a partir de hoje, este é o seu pai e esta é a sua mãe.

Eu saí pulando para abraçar meus pais, fomos ao abrigo buscar minhas coisas e eu só queria ir pra casa, mas também queria que todos meus colegas pudessem ganhar famílias como a minha. No começo eu achava que seria devolvida, que eles apenas sentiam pena de mim e que não me aguentariam por muito tempo, dei algum trabalho (ainda dou rsrs), mas agora eu sei que tenho um lar e não vou mais embora daqui.

Minha vida mudou, lógico que para melhor. Hoje eu sei o que é ter um pai e uma mãe que cuidam, protegem, amam, brigam, deixam de castigo, conversam e me fazem ver que preciso mudar meus sentimentos e minhas atitudes para que eu me torne uma pessoa melhor e mais feliz. Meus pais me ensinaram que não importa o meu passado, o meu futuro vai depender de quem eu for de agora em diante.

Minha irmãzinha e eu nos amamos muito, eu ainda me preocupo com meu irmão que ficou com minha família biológica mas sei que um dia poderei ajudar ele, sei que Deus vai me usar para transformar a vida dele quando eu estiver pronta. Minha mãe disse que um dia eu vou conseguir até perdoar as pessoas que me fizeram mau no passado, mas eu prefiro não pensar nisso por enquanto.

Eu não tenho vergonha de ser adotada, não sou filha de sangue mas sim do coração, e que privilégio nascer de um coração, o lugar onde vive o amor. Se todos os filhos nascessem do coração, as crianças não precisariam sofrer e nem aprenderiam a fazer tantas coisas erradas.

Hoje minha vida é muito melhor, a de antes não chega nem aos pés. Meus pais, minha irmã e minha avó me amam, me cuidam, me protegem, eu sei que estou segura aqui. Amo muito minha família, amo muito vocês PAI e MÃE.

#AdoçãoTardiaEuApóio

Lívia Emanueli de Castro Rocha

p.s. Assistam o vídeo com os momentos que descrevi acima.

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